Tuesday, January 17, 2006

SE...

(Versão Portuguesa da autoria de Félix Bermudes, do poema IF, de Rudyard Kipling).


Se podes conservar o teu bom senso e a calma,
Num mundo a delirar, pra quem o louco és tu,
Se podes crer em ti com toda a força d'alma,
Quando ninguém te crê; Se vais, faminto e nu,
Trilhando sem revolta um rumo solitário,
Se à torva intolerância, se à mera incompreensão,
Tu podes responder, subindo o teu calvário,
Com lágrimas de Amor e bençãos de Perdão;

Se podes dizer bem de quem te calunia,
Se dás ternura em troca aos que te dão rancor,
Mas sem a afetação de um Santo que oficia,
Nem pretensões de Sábio a dar lições de amor;
Se podes esperar sem fatigar a Esperança,
Sonhar, mas conservar-te acima do teu Sonho,
Fazer do pensamento um Arco de Aliança,
Entre o clarão do Inferno e a luz do Sol rizonho;

Se podes encarar com indiferença igual,
O Triunfo e a Derrota - eternos impostores;
Se podes ver o Bem oculto em todo o Mal,
E resignar, sorrindo, o Amor dos teus Amores;
Se podes resistir à raiva ou à vergonha
De ver envenenar as frases que disseste
E que um velhaco emprega, eivadas de peçonha,
Com falsas intenções que tu jamais lhes deste;

Se és homem pra arriscar todos os teus haveres
Num lance corajoso, alheio ao resultado
E, calando em ti mesmo a mágoa de perderes,
Voltas a palmilhar todos o caminho andado;
Se podes ver por terra as obras que fizeste,
Banhadas por malsins, desorientando o povo,
E sem dizer palavra, e sem um termo agreste,
Voltares ao princípio a construir de novo;

Se podes obrigar o coração e os músculos,
A renovar um esforço hà muito vacilante,
Quando já no teu corpo, afogado em crepúsculos,
Só existe a Vontade a comandar "Avante!";
Se vivendo entre os Pobres, és Virtuoso e Nobre
Ou vivendo entre os Reis, conservas a Humildade;
Se amigo ou inimigo, o Poderoso e o Pobre
São iguais para ti, à luz da Eternidade;

Se quem recorre a ti encontra ajuda pronta,
Se podes empregar os sessenta segundos
Do minuto que passa, em obra de tal monta
Que o minuto se espraie em séculos fecundos;
Então, ó Ser Sublime, o mundo inteiro é teu!
Já dominaste os Reis, os Tempos, os Espaços,
Mas, 'inda para além, um novo sol rompeu
Abrindo um Infinito ao rumo dos teus passos;

Pairando numa esfera acima deste plano,
Sem recear jamais que os erros te retomem,
Quando já nada houver em ti que seja humano,
Alegra-te meu Filho, então... serás um HOMEM.

Félix Bermudes

 

Legenda da Foto:

Foto de Isabel Nobre Santos da gigantesca fivela que,
em Tomar, no Convento de Cristo, pode ser tomada como
o símbolo do cinto ritual que ajuda a separar a
natureza inferior do homem da sua Natureza Superior.

4 Comments:

At 2:29 PM, Blogger Isabel José António said...

O Félix Bermudes há-de brilhar sempre, pela estatura da sua Alma e do seu percurso como Homem completo, empenhado, solidário e cheio de Amizade e sentido de humor!

Obrigada por ter deixado um comentário. É muito bom ter "feedback" e sentir que estes blogs se transformam numa corrente viva de partilha e troca de informação e inspiração!

Um abraço, Isabel

 
At 12:24 PM, Blogger Unknown said...

Há 10 anos que procuro esta tradução do poema de Rudyard Kipling e finalmente hoje a encontro. Obrigado a quem me proporcionou este consolo.
José Joaquim

 
At 7:08 PM, Blogger Isabel José António said...

Caro José Joaquim,

Muito obrigada pelo seu comentário! Se quiser comunicar connosco, poderá fazê-lo para o mail do Ramo:

ramolotusbranco@yahoo.com

Isabel e José António

 
At 5:08 PM, Blogger Unknown said...

SUBLIME...

 

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